Tarifas de 25% sobre aço e alumínio entram em vigor nos EUA; entenda os impactos para o Brasil

  • 12/03/2025
(Foto: Reprodução)
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o principal efeito será a diminuição das exportações para os norte-americanos. Cenário traz desafios, principalmente para o setor siderúrgico brasileiro. 'Tarifaço' de Trump: os impactos das taxas sobre aço e alumínio para o Brasil A cobrança de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio nos Estados Unidos entrou em vigor nesta quarta-feira (12), um mês após assinatura de decreto pelo presidente Donald Trump. A medida irá atingir em cheio o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos EUA, como o Canadá e o México. O Brasil, que ocupa o posto de segundo maior fornecedor de aço do país, também será impactado. Por aqui, especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o principal efeito da medida será a diminuição das exportações para os norte-americanos. Além disso, o cenário traz desafios para o setor siderúrgico, que terá que redirecionar suas vendas ou, no longo prazo, diminuir a produção. Entre as empresas que têm fábricas instaladas no Brasil, os efeitos devem ser diversos. De um lado, estão as companhias com maior atuação no mercado de exportação — e que podem sair prejudicadas, com queda no volume exportado. Do outro, estão aquelas cujo peso das exportações é menor, tendo o impacto suavizado. Nesses casos, os desafios ficam com a mudança do mercado interno, diante do possível aumento da oferta de produtos aqui no país — o que tende a baixar preços e reduzir as margens das companhias. (Leia mais abaixo) Veja nesta reportagem: Os impactos para o Brasil Como a medida atinge as empresas As tarifas — e o vaivém — de Trump Retrospectiva das tarifas no primeiro mandato Trabalhador da indústria Reuters/Alexandre Mota Os impactos para Brasil O Brasil é, em volume, o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, conforme dados do Departamento de Comércio norte-americano. Ao todo, foram 4,1 milhões de toneladas em exportações para o país em 2024. Os números ficam atrás apenas do Canadá, responsável por 6 milhões de toneladas ao mercado norte-americano. Em terceiro lugar, vem o México, com o envio de 3,2 milhões de toneladas. Veja abaixo: Ao todo, cerca de 25% do aço utilizado nas indústrias dos EUA é importado. No caso do alumínio, cujo principal exportador para o país também é o Canadá, essa parcela é de 50%. José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, explica que os EUA são grandes consumidores de aço e alumínio no cenário global — insumos importantes para a produção de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, construção civil, entre outros setores. "Brasil e Canadá serão os países mais afetados em termos de exportação. O que tende a ocorrer é um efeito de diminuição de importações [pelos EUA] desses países, sobretudo de aço, no curto e no médio prazo", diz. Segundo Pimenta, o cenário irá exigir que o Brasil diversifique os destinos dos produtos, buscando mercados em outros países — tarefa difícil, já que a concorrência esbarra na China, uma grande exportadora. Outra alternativa seria tentar vender o excedente no próprio mercado nacional. "Ainda precisamos entender como a indústria nacional vai se comportar e se conseguirá realmente absorver todo esse aço que outrora era exportado para os EUA", acrescenta. Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da UERJ, acredita que, apesar da concorrência, parte das exportações podem até ser absorvidas pelo gigante asiático. "A China prefere comprar produtos semifaturados [placas de aço e chapas de alumínio]. Ou seja, pode importar esses materiais para transformar em produto final", exemplifica. "Mas, em um primeiro momento, não está muito óbvio para onde as exportações brasileiras serão dirigidas." Trump diz que vai dobrar tarifas sobre aço e alumínio do Canadá O cenário incerto também decorre da possibilidade de Trump voltar atrás e decidir renegociar a aplicação dessas tarifas. Valls cita como exemplo o vaivém das taxas sobre o México e o Canadá, que entraram em vigor na semana passada e foram suspensas por mais um mês. (Leia mais abaixo) Além da pressão externa, há o interesse de parte da indústria americana para que as taxas deixem de ser aplicadas. Não à toa, CEOs de grandes empresas estão pressionando Trump pelo fim da guerra comercial. O interesse dos empresários vem do potencial das medidas de aumentar os custos de produção e os preços ao consumidor final — um desafio também para o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que atua para conter a inflação no país. O encarecimento dos produtos força o Fed a manter os juros norte-americanos elevados por mais tempo, o que gera um movimento de valorização do dólar em relação a moedas emergentes, como o real. Isso também pressiona a inflação no Brasil. Trump utiliza as tarifas como forma de negociar pautas de interesse dos EUA — incluindo o aumento da segurança nas fronteiras — e de promover uma queda no déficit comercial com importantes parceiros. É também uma tentativa de incentivar a indústria nacional, por meio do aumento da produção e do consumo de itens locais. Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o cenário de queda nas exportações para os EUA também pode, em um segundo momento, prejudicar o mercado de trabalho na siderurgia brasileira. "Com menos demanda, as fábricas podem ter que diminuir sua produção, o que pode levar a cortes de empregos. Muitas pessoas que trabalham diretamente na produção de aço e alumínio, além de setores como transporte e mineração, podem ser afetadas", diz. Campos destaca que, outros setores, como o da construção civil e da indústria automobilística, também podem ser afetados no Brasil. "Se os preços subirem ou houver falta desses materiais, as obras e a produção de carros podem ficar mais caras ou mais lentas", diz. "Sem uma solução negociada, o Brasil pode enfrentar dificuldades para manter sua competitividade no mercado global." José Luiz Pimenta, da BMJ Consultoria, lembra que, apesar de o cenário não ter impacto significativo na balança comercial brasileira, trata-se de uma parcela importante na relação direta com os EUA: o aço representa, ao todo, quase 10% do total exportado pelo Brasil ao país em 2024. Como a medida atinge as empresas Os impactos das tarifas de Trump nas empresas do país foram avaliados em relatório do Itaú BBA. Segundo o banco, empresas exportadoras não listadas na bolsa de valores brasileira — que representam mais de 80% das vendas de aço para fora do país — serão as que mais devem sentir os efeitos negativos dessas medidas. É o caso de multinacionais com operação no Brasil, como a ArcelorMittal e a Ternium, indica o Itaú. As companhias produzem placas de aço, que são compradas em grande escala pelos EUA e processadas para uso no mercado doméstico. Diante das taxas, os fluxos podem diminuir, afetando essas (e outras) empresas. Por outro lado, o relatório aponta que siderúrgicas brasileiras como a Gerdau, Usiminas e CSN não seriam tão prejudicadas. O motivo é que as exportações são menos significativas para a operação dessas companhias, conforme explicou à BBC Daniel Sasson, analista do Itaú BBA para o setor de mineração e siderurgia. Em nota publicada após o anúncio das tarifas por Trump, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, informou ter recebido "com surpresa" a decisão do governo dos EUA. O instituto disse estar confiante "na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os EUA nas bases acordadas em 2018", ano em que foi estabelecida uma cota de exportação. As tarifas de Trump Presidente dos EUA, Donald Trump, recua novamente na guerra comercial que produziu Donald Trump assinou em 10 de fevereiro o decreto que impõe tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio do país. O início das cobranças ficou previsto para este dia 12 de março. O objetivo de Trump ao taxar produtos de outros países é priorizar e incentivar a indústria local. Ele espera que, com custos de importação mais altos, haja um aumento na procura e na produção de insumos nacionais. "A nossa nação precisa que aço e alumínio sejam produzidos nos EUA, não em terras estrangeiras", afirmou o republicano, ao assinar a ordem executiva que determinou a cobrança das tarifas. Desde que assumiu seu segundo mandato, o republicano tem anunciado diversas taxas de importação. Trump prometeu, ainda durante a campanha eleitoral, tarifar uma série de produtos de outros países, em especial do Canadá e do México, seus principais parceiros comerciais. São países com os quais os EUA têm déficit na balança comercial — ou seja, gastam mais com importações do que recebem com exportações. Em janeiro, após assumir o cargo, o republicano impôs uma tarifa de 25%, mas adiou sua aplicação para março, enquanto negociava com os dois países. Na última semana, porém, quando a cobrança começou, o republicano anunciou uma nova suspensão. Primeiro, isentou carros importados. Depois, retirou as cobranças de taxas sobre outros produtos incluídos no acordo comercial da América do Norte. Em meio à suspensão de taxas de México e Canadá, Trump manteve as tarifas de 20% sobre produtos chineses. Já as cobranças sobre importações de aço e alumínio — as primeiras que afetam diretamente o Brasil —, entraram em vigor nesta quarta. Veja a retrospectiva das tarifas no primeiro mandato do republicano: Em março de 2018, os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio; O governo americano decidiu excluir Canadá e México, dois dos maiores fornecedores dos EUA, dessas tarifas e permitiu que outros países solicitassem inclusão em uma lista de exceção; O Brasil fez o pedido e foi aprovado. Os EUA criaram um esquema de cotas para as exportações brasileiras; O esquema de cotas permitia que produtos de aço ou alumínio semiacabados (usados como insumos para outras produções) fossem exportados até atingir um volume equivalente à média das exportações de 2015 a 2017; Para os produtos acabados, o limite de exportação era 30% menor que a média das exportações do mesmo período; Em agosto de 2018, as regras para a compra de aço foram flexibilizadas, permitindo que empresas americanas comprassem matéria-prima brasileira se comprovassem falta de oferta do produto nos EUA; Em dezembro de 2019, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular a compra de produtos brasileiros e prometeu reinstaurar as taxas de 25% e 10% sobre aço e alumínio, respectivamente; Dias depois, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou com Trump e que os EUA desistiram de sobretaxar o aço e alumínio brasileiros; Em agosto de 2020, Trump restringiu ainda mais as cotas de exportação dos produtos brasileiros para os EUA, reduzindo-as em cerca de 80%; Nos últimos meses do governo Trump, em outubro de 2020, o presidente decidiu elevar as tarifas sobre as chapas de alumínio importadas do Brasil de 15% para 145%, alegando que as empresas brasileiras estavam vendendo produtos abaixo do custo para eliminar a concorrência americana; Em julho de 2022, já sob o governo de Joe Biden, o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciaram que os EUA revogaram as medidas restritivas remanescentes da era Trump contra as exportações brasileiras.

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/03/12/tarifas-aco-e-aluminio-impactos-brasil.ghtml


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